quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sou Cidadão?

Infelizmente, podemos dizer que o espaço que um indivíduo ocupa é o quanto de cidadão ele merece ser, se ocupa um lugar-espaço onde as suas condições financeiras o façam levar uma vida melhor, mais oportunidades esse indivíduo vai obter, caso contrário, as portas para este indivíduo serão mais difíceis de se abrir, ou seja, seu caminho para conquistar seu próprio direito a cidadão é mais árduo.
Dependendo do lugar onde se trabalha a pessoa tem um salário melhor, uma pessoa que executa o mesmo serviço em uma região menos favorecida pode ter um salário diferente do que aquele que trabalha em uma região onde o seu status é melhor.
A urbanização é dividida conforme sua classe social, conforme as cidades vão crescendo novos planejamentos surgem, sempre em favor dos mais bem sucedidos economicamente.
O homem produtor é aquele que não encontra a acessibilidade, ele produz, como em indústrias ou em áreas agrícolas, e têm dificuldade no acesso ao produto produzido, criando-se assim o monopólio. Pode ser que o produto produzido seja mais barato em um outro local mais próximo, mas o acesso a esse local é muito ruim, então o homem consumidor é obrigado a consumir os produtos produzidos pela sua mão-de-obra a preços que para o salário recebido seria surreal.
Esses cidadãos, por morarem em um local distante, também não têm acesso a serviços públicos, e o preço do serviço privado também é maior.
Estudos revelam que o lazer, como cinemas, teatros, museus, restaurantes e hotéis, estão localizados em bairros onde a concentração de renda é maior.
O sistema capitalista divide sua população entre os proprietários dos bens de produção e os portadores da força do trabalho, essas pessoas podem até morar perto uma das outras, mas não freqüentam os mesmos lugares culturais, elas dividem o espaço de maneira distinta. O indivíduo não possui o mesmo valor enquanto produtor e enquanto consumidor.
Podemos atribuir esses problemas à política do nosso país, esse sistema capitalista em que vivemos, os partidos são um agrupamento de pessoas que comungam as mesmas idéias básicas quanto ao futuro da nação, mas na realidade não é isso que podemos observar.
O que estamos vivenciando é o aparecimento de vários partidos, cada um com uma promessa de cumprir objetivos que não equivalem às necessidades da população, se a nação é uma só, os seus problemas são únicos, como os partidos podem entrar em contradição nas promessas que fazem?
 Se são pessoas que entram para a política com o mesmo intuito de cuidar do seu povo, todos deveriam ter a mesma proposta, pois os problemas não mudam, e não dicotomizar a população e, com essa diversidade de propostas de soluções para os “problemas”, causa no eleitor certa confusão, os cidadãos precisam se conscientizar dos seus direitos e criar um novo caminho, a partir de um novo modelo cívico.
O modelo cívico deve ser primordial, e o econômico subordinado a ele, e a política orientada por ele, com isso, se forma um alicerce a solidariedade social.
Para conseguirmos que isso ocorra, é preciso que ocorra também uma conscientização da população, a nação precisa parar com essa ideologia implantada em suas ações, como diz Milton Santos em O Espaço do Cidadão (1987):
“A capacidade de enxergar e lutar não decorre da história social que a condiciona, mas da essência humana, comum a todos os indivíduos.” (pg. 100).
No livro Pedagogia da Autonomia ( 2002), Paulo Freire relata uma conversa que teve com uma mulher sofrida, em São Francisco, Califórnia:
" Você é norte-americana?
 Não. Sou pobre, respondeu como se estivesse pedindo desculpas à norte-americanidade, por seu insucesso na vida. Me lembro de seus olhos azuis marejados de lágrimas expressando seu sofrimento e a assunção da culpa pelo seu "fracasso" no mundo. Pessoas assim fazem parte das legiões de ofendidos que não percebem a razão de ser de sua dor na perversidade do sistema social, economico, político em que vivem, mas na sua incopetência. Enquanto sentirem assim, pensarem assim e agirem assim, reforçam o poder do sistema. Se tornam coniventes da ordem desumanizante." ( p. 93 )
Pensando no texto, lembramos de uma música da Pitty que aborda exatamente o que estamos refletindo.

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